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Para as pessoas que vivem na remota comunidade de Nacaca, a cerca de 12 quilómetros do distrito de Balama, na província de Cabo Delgado, o acesso aos serviços de saúde sempre foi um desafio. Para algumas, como Olinda, de 20 anos, que é mãe de três filhos, o acesso a informações e serviços de saúde sexual e reprodutiva (SSR) já foi considerado um "luxo". Isto mudou em 2020 quando, através do programa Minha Escolha, financiado pelo Reino dos Países Baixos, Olinda começou a aceder a serviços de SSR de qualidade voltados para raparigas e mulheres jovens na sua comunidade.

"Ainda bem que tenho acesso a contraceptivos localmente, pois já não preciso de viajar para os comprar," partilha Olinda, reforçando: "caso contrário, teria sido uma mãe jovem com muitos mais filhos."

"Podia ter começado a fazer planeamento familiar há muito tempo se tivesse sido informada sobre os vários métodos e contraceptivos disponíveis," salienta.

"A falta de informação e de acesso a contraceptivos contribuiu para que as raparigas do meu bairro engravidassem em tenra idade," comentou Anselmina.

Outras raparigas, como Anselmina (19 anos) e Cecília (16 anos), consideram-se "sortudas," pois participaram em sessões de informação sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR). "A falta de informação e de acesso a contraceptivos contribuiu para que as raparigas do meu bairro engravidassem em tenra idade," comentou Anselmina.

Este exemplo representa um cenário mais amplo em Cabo Delgado, onde 15% das raparigas na província são mães aos 18 anos de idade (Censo 2017). Aumentar o acesso e a disponibilidade do planeamento familiar, particularmente entre os jovens, é, portanto, fundamental para reduzir e prevenir a gravidez precoce.

 


Jovens raparigas em Cabo Delgado envolvidas em programas de mentoria apoiados pelo UNFPA

 

De acordo com Cecília, o programa trouxe mudanças significativas à sua vida, uma vez que ela tinha abandonado a escola, mas isso mudou desde então: "Devido às conversas nas sessões de mentoria, decidi voltar à escola... Quero ser professora," afirmou.

Os diálogos comunitários são uma forma eficaz dos adolescentes e jovens partilharem e acederem a informações sobre SDSR. Através do projecto Minha Escolha, mais de 40 casos de uniões prematuras foram evitadas depois de mais de 2.500 pessoas terem participado em diálogos comunitários sobre o tema.

O projecto Minha Escolha também envolveu activistas, agentes comunitários de saúde e brigadas móveis na promoção de serviços de SSR em Cabo Delgado, que agora alberga pessoas deslocadas do conflito no norte do país. Através destas intervenções, mais de 180.000 jovens, com idades entre os 10 e os 24 anos, receberam informação e acesso a serviços de planeamento familiar. 

Para Cecília, os diálogos comunitários não são apenas um espaço seguro onde aprende sobre os seus direitos e pode fazer perguntas sobre SSR, mas também um local de auto-descoberta. "Aprendi sobre mim mesma, o que me ajudou a fazer as escolhas certas para mim, como a utilização de contraceptivos," afirmou. 

Este impacto deve-se em grande parte ao poderoso trabalho das mentoras, composto por cerca de 90 raparigas e jovens mulheres de dezenas de comunidades, que são formadas pelo parceiro implementador AMODEFA, para educar, apoiar e empoderar os jovens em toda a província.

Cesarima (21 anos) é outra mentora que facilita sessões com jovens nos fins-de-semana: "Mais do que orientação, encorajo discussões sobre os desafios que as raparigas enfrentam na vida quotidiana," acrescenta: "Quero ver as raparigas da minha comunidade informadas, empenhadas nos estudos e a seguir o caminho certo".

 


Uma vez por semana, Cesarima reúne-se com outras raparigas para falar sobre os seus SDSR

Em tempos de conflito e insegurança, e à medida que os jovens fazem a transição para a idade adulta, a orientação entre pessoas da mesma faixa etária proporciona uma linha de vida vital para a informação, apoio emocional e encaminhamento para serviços sociais e de saúde. Através do importante trabalho dos mentores, jovens como Olinda e Cecília podem exercer melhor o seu direito de fazer as suas próprias escolhas relativamente à sua saúde sexual e reprodutiva.