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Em Moçambique, a violência é geralmente perpetrada por um familiar ou parente íntimo

Em Moçambique, a violência é geralmente perpetrada por um familiar ou parente íntimo

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Em Moçambique, a violência é geralmente perpetrada por um familiar ou parente íntimo

calendar_today 11 March 2019

Maputo, Mozambique - “Eu já estava cansada, precisava fazer alguma coisa, sentia-me inútil e sem força. Não podia mais ver a violência física, psicológica e verbal que a minha mãe sofria lá em casa,” disse Ana Massango, de 24 anos de idade, uma activista na Associação Sociocultural Horizonte Azul (ASCHA), em Maputo.

Ana vivia com a sua mãe e familiares em casa da sua avó, que era a responsável de casa. Após o falecimento da sua avó, um familiar de Ana passou a ser o responsável pela gestão da casa e foi aí que começou a violência contra a sua mãe. “Após a morte da minha avó, a minha mãe passou a sofrer humilhações por não trabalhar e não contribuir. Se passassem três dia sem discussão era um milagre, minha mãe sofreu muita violência e isso afectou-me muito,” disse Ana, visivelmente triste.

Globalmente, pelo menos uma em cada três mulheres sofreu violência física ou sexual, geralmente pelas mãos de um membro da família ou parceiro íntimo. Esta violência geralmente deixa marcas profundas na vida destas mulheres e raparigas.

Um dia, Ana decidiu recorrer à ASCHA - Associação Sócio Cultural Horizonte Azul, uma associação juvenil que congrega maioritariamente mulheres jovens e raparigas, que trabalham em prol da promoção e protecção dos direitos humanos, empoderamento e igualdade de género. Com a ajuda da ASCHA, Ana denunciou o caso de violência na polícia. Ana também foi convidada a juntar-se à organização: hoje é formadora e ajuda mais raparigas a ter um futuro melhor e livre da violência. “Nós percebemos que a violência é algo que está enraizado na nossa comunidade, algo visto como uma prática social, então tentamos desconstruir essa violência e ajudar a empoderar as raparigas,” diz Ana, que hoje dá formação a grupos de 30 a 50 raparigas, entre os 12 e os 24 anos.

Hoje, Ana ajuda financeiramente a sua mãe e a violência já parou no seu seio familiar. “O meu sonho é ser empresária, ter uma escolinha comunitária e dar emprego a outras mulheres. Quero ver todas as mulheres em Moçambique empoderadas, para que elas sejam financeiramente independentes e possam lutar pelos seus sonhos.”

A violência contra as mulheres e raparigas tem sido ignorada ou mantida nas sombras por muito tempo. A União Europeia e as Nações Unidas em Moçambique lançaram, no dia 8 de Março de 2019, uma iniciativa focada na eliminação de todas as formas de violência contra mulheres e raparigas – a Iniciativa Spotlight. O nome da Iniciativa - Spotlight - simboliza a importância de trazer a violência das sombras para a luz, para que possa ser vista, abordada e eliminada. Moçambique está disposto a espalhar essa luz para as mulheres e raparigas e conta com a ajuda de todos e todas.

A Associação Sociocultural Horizonte Azul (ASCHA) é uma organização da sociedade civil parceira da ONU Mulheres na eliminação da violência contra as mulheres e raparigas nos espaços públicos, no âmbito do projecto “Maputo Cidade Segura”. O projecto visa beneficiar 2.500 raparigas e rapazes de 7 escolas secundárias de Maputo e cerca de 500 líderes comunitários e de opinião dos bairros de Maxaquene e Lhamankulo.

Juntamente com a ASCHA, em 2018 a ONU Mulheres abrangeu 300 líderes comunitários e de opinião através de actividades de mobilização social, que contribuíram para aumentar os seus conhecimentos e capacidades para reconhecer e lidar com a violência contra as mulheres e raparigas em espaços públicos. Além disso, 324 raparigas e 191 rapazes participaram num programa de prevenção baseado em escolas, com o objectivo de aumentar os seus conhecimentos sobre a violência e formas de a eliminar.  Através do projecto, jovens (raparigas e rapazes) de 7 escolas secundárias também são envolvidos em “artivismo” (arte como forma de combate contra a violência) e na produção de artes manuais, nos seus tempos livres. O engajamento nestas actividades contribui com uma ocupação para prevenir comportamentos de risco entre as/os jovens, promovendo ainda estratégias de geração de renda. Estas intervenções inserem-se num esforço mais amplo para o engajamento masculino na promoção da igualdade de género e na eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres e raparigas em Moçambique, que terá continuidade no âmbito da Iniciativa Spotlight.