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Quando a mulher entra em trabalho de parto durante a noite, não temos escolha como parteiras tradicionais, temos que estar lá para ajudá-las. Até ligo para a enfermeira do posto de saúde para informar que estamos a caminho. Não importa a hora ou o dia, mesmo durante um feriado, temos que estar lá para ajudar!

conta Catarina Pedro Mesa, uma parteira tradicional (PT).

Aos 45 anos, Catarina tem apoiado mulheres e raparigas em idade reproductiva na sua comunidade nos últimos quatro anos. Com nove filhos, ela já ajudou a trazer cem recém-nascidos ao mundo no remoto distrito de Ile, na província da Zambézia, em Moçambique.

Algumas das aldeias apoiadas por Catarina ficam a mais de 25 km de distância do centro de saúde mais próximo, com algumas estradas não acessíveis de carro. Por esse motivo, o meio de transporte frequentemente usado é a bicicleta, o que significa que as mulheres em trabalho de parto costumam ser transportadas junto das suas parteiras tradicionais de confiança e o motorista de táxi-bicicleta da comunidade, se puderem pagar a viagem. Com acesso e recursos financeiros limitados, outras mulheres são obrigadas a caminhar a distância inteira até o centro de saúde - suportando horas e colocando suas vidas e a do seu bebé em risco.

A experiência da Catarina com as mulheres e as raparigas que ela apoia é muito comum em Moçambique, um dos países com as maiores taxas de mortalidade materna do mundo, com 452 mortes em cada 100.000 nados vivos. O acesso aos centros de saúde também é um dos maiores desafios, com quase um em cada três moçambicanos (31,7% em 2015) tendo que caminhar mais de meia hora para chegar a uma unidade de saúde. A situação melhorou moderadamente somente na última década (de 33,6% em 2009).

 


A enfermeira-chefe Nelia dá uma palestra para mulheres locais sobre
a importância de partos institucionais no Centro de Saúde de Mocuba
©Karlina Salu/UNFPA Moçambique

Para enfrentar esses desafios, a Equipe de Inovação do UNFPA Moçambique criou a Chopela Mama, uma nova plataforma de transporte (salva-vidas) que conecta mulheres grávidas em comunidades remotas com motoristas formais e informais, para que possam chegar com segurança aos cuidados obstétricos à tempo e sem custos.


Protótipo do telefone simples para gestantes
criado pela Carmelinda Muchanga ©UNFPA Mozambique

Chopela Mama foi criada como parte das Ideias de Inovação Global 2020 em Saúde Materna, co-liderado pelo UNFPA e a PMA, que tem como objectivo a qualidade do atendimento a fim de acelerar o acesso universal à saúde e direitos sexuais e reproductivos. Os escritórios do UNFPA nos países em todo o mundo apresentaram soluções inovadoras e ousadas que abordam e desbloqueiam de maneira exclusiva os principais desafios que impedem mulheres e raparigas de terem acesso imparcial nos cuidados maternos e neonatais de boa qualidade.

Com o apoio generoso das Equipes de Inovação do PMA e do UNFPA, e apesar da pandemia COVID-19, a equipe desenvolveu ainda mais o conceito de Chopela Mama após um storyboard extensivo, pesquisa de usuários virtuais e, o mais importante, a prototipagem do aplicativo. Com estas ideias em mãos, a equipe identificou a província da Zambézia como uma província piloto e embarcou em uma missão de campo para trabalhar com enfermeiras de saúde materno-infantil a nível provincial e distrital, motoristas locais e influenciadores da comunidade (Parteiras tradicionais e agentes polivalentes elementares - APEs).

Com informações valiosas colectadas em campo, a equipe ajustou suposições pré-concebidas, como o uso de telefones Android em áreas remotas, disponibilidade de veículos e acesso às estradas. O projecto agora se concentrará em uma solução USSD (semelhante ao envio de mensagens de texto simples) que permitirá que qualquer pessoa com um telefone simples tenha acesso a uma viagem gratuita e a um centro de chamadas para facilitar a comunicação entre gestantes, motoristas locais e as unidades de saúde. Enquanto no campo, um extenso exercício de estruturamento foi realizado permitindo à equipe mapear mais de 560 km de estradas de acesso, o que melhorou muito a capacidade da equipe de fornecer uma solução eficaz que corresponda a realidade no terreno.

 


O consultor de mobilidade, Joaquin Romero, analisa os mapas da comunidade
com a Chefe Provincial de Saúde Materno-Infantil, Enfermeira Maria Rosa
©Karlina Salu/UNFPA Mozambique

Com a ajuda de desenvolvedores locais, a equipe pretende construir uma ferramenta excepcional, mas simples, por meio de telefones básicos, que têm o potencial de atingir cerca de 400.000 mulheres grávidas em Moçambique todos os anos.

Desde que a pandemia COVID-19 foi relatada pela primeira vez em Moçambique no ano passado, o UNFPA apoiou iniciativas inovadoras para garantir a continuidade dos serviços de saúde e protecção que salvam vidas, incluindo brigadas móveis para tornar os contraceptivos e o planeamento familiar mais acessíveis às comunidades remotas, distribuição de kits de dignidade básicas contendo artigos de higiene menstrual e sanitários, e apoiando o fornecimento de linhas directas nacionais para que as mulheres e raparigas tenham acesso a informações e encaminhamento para serviços à tempo.

Beneficiando-se do papel do UNFPA na resposta nacional ao COVID-19, a iniciativa Chopela Mama chega em um momento ideal para contribuir para a continuação dos serviços de saúde sexual e reproductiva.

Fique ligado para actualizações sobre a nossa colaboração com parteiras tradicionais como a Catarina, que agora estarão mais confiantes em sua capacidade de levar as grávidas às unidades de saúde a tempo com o apoio adicional de Chopela Mama!

Assista a um vídeo sobre nossa jornada: