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Quando um grupo de mulheres jovens assumiu o desafio de promover a saúde sexual e reproductiva (SSR) entre os seus pares em Montepuez, província de Cabo Delgado, não imaginavam o impacto que teriam nas suas comunidades: 

"Lembro-me que no início, alguns pais e encarregados de educação pensavam que estávamos a encorajar as suas filhas a escolher o caminho errado", disse Celia Calisto, de 26 anos de idade. 

Alima Rachid Bacar (21 anos de idade) acrescenta: "Actualmente, os pais e encarregados de educação agradecem-nos pelas escolhas feitas pelas suas filhas, porque compreendem que devem concentrar-se nos seus estudos e evitar gravidezes indesejadas e uniões prematuras".

Celia e Alima foram formadas como mentoras no âmbito do programa de saúde e direitos sexuais e reprodutivos (SDSR), Minha Escolha, financiado pelo Reino dos Países Baixos. Juntamente com centenas de outras mulheres jovens, Célia e Alima foram formadas para liderar diálogos comunitários com jovens, a fim de aumentar a sensibilização sobre questões ligadas a SSR, violência baseada no género (VBG) e empoderamento de mulheres e raparigas.

Estas sessões de mentoria são fundamentais, uma vez que as províncias do norte de Moçambique registam as taxas mais elevadas de gravidez na adolescência e mortalidade materna no país, juntamente com a taxa mais baixa de uso de contraceptivos (com apenas uma em cada cinco).

O programa, que terminou em Dezembro de 2022, visava reduzir as gravidezes indesejadas entre raparigas  e mulheres jovens através do acesso universal ao planeamento familiar e aos serviços de SSR nas províncias de Tete e Cabo Delgado. Para o conseguir, o programa concentrou-se em aumentar a disponibilidade de produtos de planeamento familiar, aconselhando raparigas e mulheres jovens a melhorar os seus conhecimentos e acesso à informação sobre SDSR e assegurar a disponibilidade de serviços em espaços amigos dos jovens (SAAJ) e serviços móveis.

Em Cabo Delgado, por exemplo, mais de 129.600 adolescentes e jovens foram alcançados por brigadas móveis - equipas médicas que viajam para áreas remotas e isoladas para prestar serviços - e através de trabalhadores comunitários de saúde, atingindo mais do quádruplo do número de pessoas. 

O aumento drástico do número de beneficiários resultou de um grande afluxo de pessoas deslocadas internamente a distritos programados na sequência de ataques em distritos do norte da província, perturbando a continuidade dos serviços sociais e aumentando a procura de serviços de SDSR e de planeamento familiar para adolescentes.

Numa província que conheceu um aumento de violência e insegurança, os mentores desempenham um papel fundamental na ajuda a mulheres jovens e raparigas  a fazerem escolhas informadas e com poder sobre a sua saúde, autonomia corporal, e futuro.

 

"Ajudámos as raparigas a fazer a melhor escolha das suas vidas" 

 

Estefânia não escondeu o seu orgulho quando explicou o seu papel na prevenção de gravidezes indesejadas e prematuras. "Havia muita informação limitada e mitos em torno do uso de contraceptivos entre as raparigas, mas hoje em dia elas estão mais conscientes dos seus direitos sexuais e reprodutivos e eu remeti-as para os [espaços] amigos dos jovens", comentou ela.

De Outubro a Dezembro de 2022, o programa apoiou mais de 3.000 jovens a visitar serviços de saúde amigos dos jovens em Cabo Delgado. 

 

"A minha tarefa é reduzir a gravidez precoce na minha aldeia"

 

O trabalho das mentoras é complementado por agentes de saúde comunitários, activistas e líderes comunitários (líderes tradicionais e religiosos e outros influentes locais), tais como o de José Francisco, um chefe de aldeia de Natite em Cabo Delgado. José recebeu formação para educar a comunidade sobre a SDSR de mulheres e raparigas e formas de eliminar a violência baseada no género. 

Com o apoio de parceiros de implementação, José dirige campanhas de sensibilização porta-a-porta e conduz palestras em mercados, feiras, igrejas e mesquitas. "Todos os homens adultos estão informados e conscientes das consequências de se envolverem com raparigas menores de idade", disse ele. "Quem desrespeitar isto, para além de os encaminhar para as autoridades competentes, [são] obrigados a abandonar a nossa aldeia". 

Este sentimento é apoiado por Albertina Pentane, uma anciã respeitada e influente da comunidade, que explicou que no passado, mulheres e raparigas não frequentavam centros de saúde, muito menos utilizavam quaisquer métodos contraceptivos, mas graças ao projecto Minha Escolha, o cenário mudou. "Vemos menos relatos de gravidezes precoces e indesejadas, porque tanto as mulheres como as raparigas estão conscientes e decidiram utilizar o planeamento familiar", disse ela.

O UNFPA está empenhado em apoiar o Governo de Moçambique, através de projectos financiados por parceiros de desenvolvimento como o Reino dos Países Baixos, que permitem que as mulheres, raparigas e jovens mais vulneráveis tenham acesso a serviços de saúde sexual e reproductiva, mesmo nas áreas mais remotas. 

Utilizando influenciadores locais como mentores, líderes comunitários e agentes de saúde comunitários, estes projectos contribuem para a redução de gravidezes precoces e indesejadas, fazendo progressos firmes no sentido de alcançar os três resultados transformadores de zero necessidades não satisfeitas de planeamento familiar, zero mortes maternas evitáveis e zero violência baseada no género e práticas nocivas em Moçambique.