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NAMPULA, Moçambique - Sara, de 20 anos de idade, percorre pelo menos 10 quilómetros para chegar ao Centro de Saúde de Mutauanha, na periferia da cidade de Nampula, em Moçambique, para receber contraceptivos. 

Esta é a unidade de saúde mais próxima da sua residência e, muitas vezes, devido à falta de dinheiro para o transporte, ela é obrigada a fazer o percurso a pé. 

Casada e mãe de dois filhos, Sara escolheu eventualmente um planeamento familiar auto-injectável, porque, como ela explicou, é uma abordagem que lhe traz vários benefícios:

"Comecei a usar contraceptivo auto-injectável há dois meses, o que significa que não tenho de viajar todos os meses para a unidade de saúde", observa ela, acrescentando que "agora tenho mais tempo para cuidar das minhas tarefas domésticas, e não tenho de pensar onde arranjar dinheiro para o transporte para ir ao hospital."

Sara aprendeu primeiro este método de contracepção após uma sessão de orientação dada por um profissional de saúde, onde aprendeu não só as suas vantagens, mas como administrá-lo sozinha: "Não foi difícil, [e] a enfermeira explicou-me como devia proceder e, em caso de qualquer situação anormal, que devia regressar ao hospital.”


Sara injecta-se com um contraceptivo de longa duração após orientação de
uma profissional de saúde. ©Helder Xavier/UNFPA Moçambique

Tendo tido o seu primeiro filho aos 18 anos e o segundo aos 20, Sara sabe agora que os benefícios do planeamento familiar permitem-lhe ter mais controlo sobre o seu corpo e actividade sexual: "Vou seguir este método estritamente, porque não quero engravidar tão cedo, especialmente porque estou a considerar voltar à escola," acrescenta. 

O aumento do acesso aos - e utilização de - contraceptivos auto-injectáveis está a ser apoiado pelo UNFPA, o Fundo das Nações Unidas para a População, através de projectos financiados pelos Governos do Reino Unido (UK), do Reino dos Países Baixos e da Suécia, que visam aumentar a disponibilidade e acessibilidade dos métodos modernos de planeamento familiar em Moçambique.

Estes projectos com uma duração de vários anos, implementados em províncias como Nampula, Sofala e Maputo, apoiam mulheres como Sara a expandir as suas opções de planeamento familiar e a aumentar a sua autonomia corporal e poder de decisão sobre se e quando, e com quem, decidem ter um filho.

Os projectos, liderados pelo Governo de Moçambique, não só ensinam às mulheres como se administram os contraceptivos injectáveis, mas também garantem a disponibilidade de tais contraceptivos nas instalações de saúde para evitar questões de ruptura de stock.

Estes esforços são fundamentais num país onde mais de metade dos nascimentos ocorrem entre mulheres com idades entre os 15 e os 24 anos (Censos 2017).

Igualmente preocupante é a necessidade nacional não satisfeita de planeamento familiar (ou seja, o número de mulheres em idade reprodutiva que querem evitar ou dar tempo a uma gravidez, mas que não estão a utilizar nenhum método de planeamento familiar), que se situa nos 23% (Inquerito de Indicadores de Imunização, Malaria, e HIV/SIDA - AIS 2015). Estes projectos pretendem responder à necessidade não satisfeita de métodos contraceptivos modernos para as mulheres nas áreas mais remotas. 

 


A enfermeira Lídia partilha as suas ideias e experiências na prestação de serviços de
planeamento familiar a mulheres e raparigas da comunidade em que trabalha.
©Helder Xavier/UNFPA Moçambique

"A minha primeira impressão foi de 'surpresa', porque pensava que o número de utilizadores de planeamento familiar iria diminuir, mas percebi que não," disse Lídia Tocoloa, enfermeira de Saúde Materna e Infantil no Centro de Saúde de Mutauanha. Lídia acrescentou que actualmente cada vez mais mulheres estão a optar pela auto-injecção, o que também reduziu a aglomeração no centro de saúde.

"Oferecemos sessões de orientação de forma recorrente, onde falamos sobre os benefícios, como funciona o método, e depois pedimos-lhes que pratiquem na nossa presença," disse Lídia.

Para mulheres como a Sara e a enfermeira Lídia, os contraceptivos auto-administrados são uma mudança de jogo para o planeamento familiar: reduzindo a carga económica de ter de fazer viagens recorrentes à unidade de saúde, diminuindo a procura de serviços de saúde sobrecarregados e, mais importante ainda, colocando a escolha nas mãos de mulheres e raparigas em idade reprodutiva, para que os seus direitos e autonomia sejam plenamente seus.