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Fernanda Florinda Assane, 24, sobrevivente de fístula obstétrica, é natural do Distrito de Ancuabe, na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Aos 16 anos, Fernanda deu à luz a sua primeira filha, Jennifer, e dois anos depois engravidou novamente, mas infelizmente teve um nado morto. Depois dessa experiência trágica, surgiram vários problemas graves de saúde a ponto de ir a curandeiros para vários tratamentos, mas nada foi resolvido. Ela teve fezes saindo da sua vagina, a incapacidade de controlar a libertação de urina mal cheirosa e discriminação por parte de todos, porque ninguém queria estar perto dela.

Fernanda era discriminada e ninguém queria ficar perto dela. Foto: Alexandre Muianga / UNFPA Moçambique

Fernanda não percebeu que tinha uma fístula obstétrica até procurar suporte médico. O seu irmão, um técnico de saúde, recomendou que ela procurasse cuidados médicos onde soube que tinha fístula e fez uma cirurgia reparadora após dois longos anos de sofrimento.

A fístula obstétrica é um problema prevalente para as mulheres em Moçambique e em todo o mundo. Em 2020, prevê-se que mais de 2,500 mulheres terão fístula no país. Causada por trabalho de parto prolongado ou obstruído sem atendimento médico oportuno e de qualidade, a fístula obstétrica frequentemente leva a problemas médicos crónicos, depressão, isolamento social e aumento da pobreza. Infelizmente, apesar da sua prevalência, a consciencialização sobre a fístula obstétrica ainda é limitada entre as mulheres, as suas famílias e membros da comunidade.
 

A fístula obstétrica ocorre principalmente entre as mulheres e raparigas mais pobres e vulneráveis, especialmente aquelas em comunidades rurais longe dos serviços médicos.

Após a cirurgia reparadora de Fernanda, a sua recuperação e vida social aconteceram gradualmente, e com um novo senso de dignidade ela sentiu-se mulher novamente, participando ativamente das atividades familiares e comunitárias.

Durante consultas com o mesmo cirurgião que tratou da sua fístula, Fernanda descobriu que poderia engravidar com segurança novamente. Em junho de 2020 Fernanda estava com 9 meses de gravidez e felizmente estava acompanhada pelo mesmo médico que operou a sua fístula, deixando-a mais tranquila e confiante de que a criança nasceria saudável.

Fernanda e sua filha Jennifer. Foto: Alexandre Muianga / UNFPA Moçambique

“Sinto-me à vontade para falar sobre fístula, porque não tenho porque esconder um problema que é uma realidade e atinge muitas mulheres e adolescentes”, disse Fernanda. Ela aconselhou todas as raparigas e mulheres com problemas de saúde, sintomas e sinais de fístula que procurassem imediatamente apoio na unidade de saúde mais próxima.

Mesmo em meio à pandemia de COVID-19, Fernanda conseguiu aproveitar os cuidados disponíveis no hospital e dar à luz um bebé saudável. O apoio do irmão foi fundamental e, graças a ele, ela agora goza de boa saúde e sabe que essa condição só pode ser tratada no hospital.

Fernanda conta que aprendeu com o médico que, quando uma gestante está com dores de parto, deve ir ao posto de saúde e evitar o parto em casa. Da mesma forma, as raparigas devem evitar engravidar precocemente - menores de 18 anos - pois em ambas as situações elas correm maior risco de dificuldades, a criança pode nascer morto e a mulher pode ter fístula.

Promover essa consciencialização entre raparigas e mulheres é um passo para mitigar os impactos de uma doença totalmente evitável. Isso, combinado com o aumento da acessibilidade a cuidados médicos de alta qualidade, têm sido dois objetivos principais do trabalho do UNFPA em Moçambique com financiamento do Governo do Canadá e em apoio ao Governo de Moçambique.

Fernanda venceu a luta contra a fístula e se sente à vontade para falar sobre fístula na sua comunidade. Foto: Alexandre Muianga / UNFPA Moçambique

Em 2019, o UNFPA Moçambique apoiou o Governo de Moçambique na realização de 1,850 cirurgias de reparação de fístulas.

Uma Vida Nova e Digna para Mulheres e Raparigas com Fístula Obstétrica é um programa de quatro anos financiado pelo Governo do Canadá com o objetivo de melhorar o bem-estar de raparigas e mulheres que vivem com fístula obstétrica em Moçambique, contribuindo para a prevenção e tratamento da fístula.

O Governo de Moçambique também ira a hospedar a conferência anual ISOFS em Maputo em março de 2021. A conferência ISOFS reúne especialistas médicos e cirurgiões de fístula de todo o mundo para promover e discutir as melhores práticas e inovação, estimular o avanço profissional da prática da Fístula Obstétrica e estabelecer relações internacionais redes entre os profissionais. Clique aqui para obter mais informações.